É comum a mídia se referir à “sensação térmica” em oposição à “temperatura ambiente” e isso pode facilmente confundir o ouvinte, pois ambas as informações têm a mesma dimensão de uma temperatura. Em que diferem? Existe algum erro conceitual na forma como a mídia se refere costumeiramente à sensação térmica?
Para início de conversa, cabe notar que enquanto a temperatura é uma “grandeza física” objetiva, ou seja, que pode ser medida e comparada rigorosamente por distintos instrumentos, a “sensação térmica” é apenas algo subjetivo, na verdade um construtor neurofisiológico. Ela não deve ser confundida com a simples avaliação humana sem instrumentos (e, portanto imprecisa) da temperatura. Ela é bem mais do que isso! O estudo da relação entre os “estímulos objetivos” (variáveis físicas passíveis de medidas objetivas) e as “sensações” humanas já foi objeto de estudo, a partir de meados do século XIX, nos laboratórios de “psicofísica”.
Importantes cientistas como Mach, Helmholtz, Weber, Fechner deram contribuições até hoje válidas. É bem conhecido no contexto da audição o “nível de intensidade sonora” (medida adimensional baseada no logaritmo da razão entre a intensidade sonora de interesse por uma intensidade de referência, usualmente a intensidade correspondente ao limiar da audição) que, de acordo com a lei de FECHNER-WEBER, quantifica a sensação humana no que toca à intensidade sonora.
O professor aborda aqui a relação entre a temperatura ambiente e a sensação térmica, sendo que a segunda procura quantificar a partir da primeira e de outras variáveis físicas relevantes (tais como velocidade do vento, umidade relativa …), aquilo que um humano aproximadamente sente. A diferença entre “temperatura ambiente e sensação térmica” é notória quando saímos molhados de uma piscina ou mar, principalmente se houver vento. Os ventiladores obviamente não baixam a temperatura ambiente (de fato até a elevam um pouco) mas nos sentimos refrigerados quando entramos na corrente de ar que eles produzem. Tal é explicado pela perda de energia em nossa pele por aumento da taxa de evaporação.
Vamos aos fatos:
Embora a sensação térmica seja normalmente referida em graus Celsius, como uma temperatura qualquer, ela NÃO é exatamente a mesma coisa de uma temperatura; ela é algo bem mais complexo, pois, corresponde à percepção subjetiva da temperatura ambiente que “depende de vários fatores e varia de indivíduo, de momento e de lugar.
A “sensação térmica” é influenciada por um enorme conjunto de fatores, alguns objetivos como: a velocidade do vento, a condutividade térmica de certos materiais; e por outros tantos fatores subjetivos como as distintas sensibilidades dos seres humanos às variações de temperatura. Rigorosamente falando, a sensação térmica não pode ser medida como uma grandeza física objetiva, entretanto o seu conceito continua sendo de fundamental importância, pois o que os termômetros marcam em um ambiente pode ser muito diferente do que os seres humanos sentem no mesmo.
A ideia de se referir a algo como a sensação térmica nasceu na Segunda Guerra Mundial, quando os soldados na Rússia experimentavam sensações extremas ligadas a transferência do calor e que não eram bem descritas simplesmente pelas informações dos termômetros.
A VELOCIDADE DO VENTO era um fator a ser considerado nas referidas avaliações devido a retirada do calor da pele dos indivíduos por CONVECÇÃO, que influenciava decisivamente na taxa de EVAPORAÇÃO. Com tais informações, o exército americano adotou um parâmetro ao qual denominou de ÍNDICE DE SENSAÇÃO TÉRMICA que levava em conta a VELOCIDADE DO VENTO e apenas a velocidade do vento como fator tadicional a ser avaliado em conjunto com a temperatura ambiente.
O que se queria era transmitir a ideia de como a referida velocidade poderia afetar as sensações térmicas; mas NÃO garantir que tal informação seria A SENSAÇÃO TÉRMICA por completo, pois esta permanece sendo algo subjetivo e, portanto, impossível de ser medida de forma objetiva como algo válido para todos os indivíduos em um certo local e momento.
Quando os noticiários, portanto, se referem usualmente à SENSAÇÃO TÉRMICA, eles estão na verdade se referindo apenas e simplificadamente ao ÍNDICE DE SENSAÇÃO TÉRMICA, algo objetivo e que leva em conta apenas parte que influencia a bem complexa e subjetiva noção de sensação térmica como um todo.
Quanto ao estabelecimento dos índices de sensação térmica a abordagem é empírica, não envolvendo demonstrações matemáticas decorrentes de teorias mais gerais como estamos acostumados. Há pelo menos cinco diferentes índices, o mais usado deles sendo o WCI (WindChill Index).
Recorre-se frequentemente, na prática, mais as tabelas dos dados coletados do que a fórmulas que as aproximem. O índice de calor é um índice que combina a temperatura do ar com a umidade relativa, de forma a determinar a temperatura aparente, ou seja, qual a temperatura que uma pessoa “sente”.
Temperaturas e seus Efeitos:
– 27–32 °C Cuidado— possibilidade de fadiga após exposição e atividade prolongadas;
– 32–41 °C Cuidado Extremo — Hipertermia, câimbras de calor e choque térmico possíveis;
– 41–54 °C Perigo — Hipertermia e câimbras de calor prováveis; choque térmico possível;
Acima de 55 °C Perigo Extremo — Hipertermia e choque térmico prováveis com a exposição continuada;
Texto copilado do site em SP de física, há alguns anos pela Confederação Brasileira de Física. Hoje não existe mais a tal publicação.