A Fundação S.O.S. Mata Atlântica divulgou pesquisa que trata do desmatamento, o Atlas dos Municípios, entre o período 2019/2020. Foi constatado que a Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do país, sendo a cidade de Bonito (Mato Grosso do Sul) o local mais devastado durante o período do estudo. Para se ter uma ideia do tamanho do estrago, são 416 hectares do bioma (florestas, mangues e restingas) que se perderam com a agressão à natureza. Isso equivale a dizer que a cada 24h o tamanho de um campo de futebol foi desmatado. O mais lamentável é que a cidade de Bonito é conhecida como um local onde prolifera o ecoturismo.
A Mata Atlântica abrange 17 estados, a saber: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. São 3.429 municípios que abrigam o ecossistema, sendo 16 capitais.
A S.O.S. Mata Atlântica realiza esse levantamento todo ano, com o objetivo de identificar, monitorar e manter atualizadas as informações sobre o bioma. Segundo dados da Fundação, “a Mata Atlântica representa 0,8% da superfície terrestre do planeta, onde estão mais de 5% das espécies de vertebrados do mundo”. Estimam-se mais de 15.700 espécies vegetais neste bioma tão rico.
Na abertura do documento, o presidente da Fundação, Pedro Luiz Passos, analisa que o ano de 2019 foi o período em que a gestão ambiental do governo federal provocou boicote aos produtos brasileiros, e, entre outras coisas, o Brasil acabou perdendo o apoio de fundos europeus para a preservação do meio ambiente no país.
“2019 foi o ano em que a gestão ambiental do governo mostrou a que veio – destruiu a imagem do país no exterior como protagonista na área do meio ambiente, provocou boicote aos produtos brasileiros pelo mercado internacional, colocou em risco a ratificação do acordo entre Mercosul e a União Europeia, o primeiro passo efetivo para a inserção internacional da nossa economia. Como se não bastasse, estes 12 meses foram suficientes para perdermos o apoio de fundos europeus que financiavam atividades de preservação na Amazônia e afastarmos investidores internacionais que manifestam de forma eloquente seu temor com a insegurança ambiental promovida com as iniciativas do atual governo. Entre os maus exemplos na gestão ambiental estão o desmonte de órgãos como o Ibama e o ICMBio, a redução drástica na fiscalização e aplicação de multas e a tentativa constante de afrouxar a legislação de meio ambiente”, diz o presidente.
Mas por que é tão importante a preservação de ecossistemas como a Mata Atlântica, bem como Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Pampa?
Quando a natureza é agredida, quem paga a fatura é a humanidade. Cada vez mais o mundo se tem conscientizado da necessidade de se preservarem biomas importantes como a Mata Atlântica para a melhor sobrevivência dos seres humanos. Não, isso não é conversa de “ecochato”, mas uma realidade dos nossos dias, mesmo que haja alguns negacionistas que digam ao contrário. No texto de abertura do Atlas, o presidente da fundação salienta esse fato.
“O governo colocou em dúvida a ciência e os dados de desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A posição negacionista do governo, em que não há debate nem transparência, afeta diretamente valores democráticos, defendidos pela S.O.S. Mata Atlântica desde a sua fundação. Mais do que nunca, lutamos pelas nossas causas, com vitórias e derrotas, mas tudo sempre dentro da regra do jogo. Agora, vemos um desprezo ao que foi construído. Uma política que destrói conquistas e, pior, sem saber ou apresentar o que vai colocar no lugar. Mas esta visão retrógrada – que não enxerga a importância da sustentabilidade no desenho de um novo modelo de desenvolvimento – foi marcada com outros eventos dramáticos”, diz Luiz.
O Atlas da S.O.S. Mata Atlântica classifica algumas vantagens de se cuidar do ecossistema climático; a qualidade da água é muito importante, ela deve ser não apenas abundante, mas ser adequada à população; proteção à biodiversidade, que serve também de alavanca para atividades econômicas como turismo, agricultura, pesca e geração de energia. Além disso, essa biodiversidade pode trazer também vantagens científicas. As plantas que compõem esse bioma podem trazer no seu âmago a cura para doenças como câncer, diabetes, covid-19 e outros males que assolam a humanidade.
O Atlas traz também uma notícia acalentadora. Apesar dos pesares e de todos os desafios encontrados, o presidente da Fundação salienta a importância de se registrar que em 2019 o Atlas da Mata Atlântica registrou o menor índice de desmatamento desde que foi iniciado o monitoramento, em parceria com o INPE, há mais de 30 anos. A situação não é pior devido ao trabalho da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, em conjunto com órgãos ambientais estaduais, Ministério Público, Ibama e polícia ambiental.
“O mapeamento observou o período 2017-2018, e a avaliação é de que o resultado positivo teve relação com ações afirmativas de monitoramento sistemático e combate ao desmatamento empenhadas por órgãos ambientais estaduais, polícia ambiental, Ministério Público e Ibama, nos últimos anos. Mas o desafio ainda está sobre a mesa: reduzir ainda mais o nível de desmatamento no bioma – o que é plenamente factível – e evoluir na restauração da floresta, uma vez que pouco resta dela. Assim também contribuiremos para o principal desafio da humanidade: as mudanças climáticas. No momento em que esta carta é redigida, o Brasil e o mundo se encontram diante de uma crise sem precedentes – a pandemia do novo coronavírus. A reviravolta provocada pelo vírus da covid-19 expõe de forma eloquente a importância de apoiarmos, como cidadãos do planeta, a reconstituição da governança global que, apoiada nos avanços da ciência, trabalhará de forma incessante para nos assegurar saúde, soluções ao desafio da desigualdade e uma atuação coordenada”, finaliza o presidente.